sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Só vendo mesmo.


A Capadócia é um lugar que desafia aquele que não gosta de clichês nem de adjetivos. Então, vamos lá: inacreditável, impressionante, maravilhosa, incompreensível, fantástica, receptiva, calorosa, linda. Esgotei. Me nego a falar paradisíaca, mesmo porque tal lugar comum costuma ser empregado para descrever praias.







Vixe Maria!


Fé é fé. Eu não discuto. Mas essa história me pareceu bem mal contada. Reza a lenda que Maria, mãe de Jesus, depois da morte do filho, foi viver na Turquia, em companhia do João Evangelista, que também foi promovido e virou Santo.
Católicos de todos lados visitam essa capela/casa e sentem todas aquelas coisas que místicos costumam sentir: tremores, convulsões, vontade de chorar e experimentam uma profunda paz depois. Sei lá. Não entrei. Tinha fila e eu não estava com saco. Mesmo porque a casinha é mais falsa do que o santo sudário. A construção original está embaixo da terra, sendo devidamente ignorada pelos arqueólogos de plantão. Afinal, quem tem Éfeso, Hierápolis, Tróia para investigar e entender, não deveria mesmo se ocupar de uma lenda.
Mas, ela está lá. Cercada de verde, tudo muito bonito e bem cuidado. Até um buraco no chão é sacralizado. Seria um poço próprio para a realização de batismos. O interessante é que em um país muçulmano, muito embora o estado seja laico, exista uma loja cheia de bugigangas para serem levadas como lembranças da casa da Virgem. E, em pleno Ramadã, era possível beber uma cerveja na lanchonete. Vai entender.

Quem pode pode. Quem não pode vira tatu.





























Depois de adentar em uma cidade subterrânea, entendi: claustrofobia é uma doença moderna. Assim como a obesidade. Quando você chega é até bonitinho. Uma escadinha civilizada e alguma luz recebe os visitantes. Vai nessa. Conforme a turba vai virando tatu, o negócio vira um sufoco. Caraca! Os mais altos se abaixam, os mais gordos entalam e você, lá atrás, sem saber o que esperar.
As cidades subterrâneas da Capadócia começaram a ser construídas pelos Hititas. Em tempos de guerra, era preciso se virar para viver mais um pouquinho. A que eu visitei tinha 8 andares para baixo - quase 100 metros de profundidade. Não, eu não passei do segundo. Nem eu nem ninguém. Medidas de segurança são sempre bem-vindas.
Para olhos estranhos, aquela obra de engenharia parece impossível de ser realizada sem auxílio das máquinas de fazer metrô. Acontece que a região é formada por rochas vulcânicas, porosas e fáceis de escavar. Ali tem de tudo que um apartamento de hoje apresenta: lugar para cozinhar, para armazenar alimentos, para dormir, para ir ao banheiro, para fazer um social. Tem até poços de água potável e um sistema de ar-condicionado. Sensacional!
Depois que os Hititas, sei lá, foram morar em Miami, as cidades receberam novos habitantes:os cristãos. Como eles também não tinham vida nada fácil na época, aquilo era um paraíso. Seguro, confortável, eficiente. Cada um sabe onde aperta o calo.

Mora na filosofia.
















Naquela época o povo não tinha mesmo sossego. Ninguém ficava em casa, vendo novela. Ainda bem. Em 1000 a.C, Éfeso já era uma cidade e tanto. Mas os arqueólogos encontraram vestígios até dos Jônicos. Foi dominada pelos persas e depois pelos romanos. Eles, de novo.

Três séculos antes de Cristo, a cidade já era um centro de cultura e discussões filosóficas.
Dá para ver que os ¨efesianos¨ não gostavam de nada mambembe:
o teatro, usado até hoje em eventos especiais, tem capacidade para 25 mil pessoas! Mais novinha é a Biblioteca de Celso. Foi construída no ano 106 d.C. e tinha o maior acervo de obras da época.Me contaram que, por medo dos constantes terremotos, resolveram transferir todo o acervo para um lugar mais seguro. Assim foi feito. Todos os milhares de pergaminhos foram parar na biblioteca de Alexandria. O resto, vocês já sabem.
Como eu estava fazendo uma visita guiada, fiquei sabendo de coisas que provavelmente sozinha não saberia. Essa da biblioteca foi uma. Outra é que Paulo e João pregavam a religião católica por ali. E parece que deu certo. Para a religião e para eles, que foram promovidos a Santos.
O banheiro público é de uma poesia só: várias latrinas,uma ao lado da outra, serviam para que os homens discutissem política e tramassem revoluções enquanto estavam lá, cagando. Tudo muito convidativo uma vez que o sistema hidráulico levava toda a sujeira sabe-se lá para onde e uma banda tocava os ritmos preferidos da elite intelectual
Mesmo com todos os tremores passados e presentes, Éfeso é muito bem conservada. E grande. Aja disposição!

Castelos de Algodão. Os turcos são uns poetas.





























De longe, parece neve. De perto, parece nada com que eu já tinha visto. Formações calcárias, muito brancas, formam cascatas de água sulfurosa. E tudo é azul. As piscinas são bem rasas e, segundo me disseram, escorregadias. Mas as pessoas não se importam. Todo mundo pisando, deitando, se refestelando. Enfim, agredindo mais um Patrimônio Histórico Mundial da Unesco. Ao redor dessa maravilha, estão as ruínas de Hierápolis, cidade fundada pelo rei de Pérgamo, aquela do pergaminho. Entre as ruínas, um balneário utilizado até hoje - dizem que as águas são boas para reumatismo, pelagro, espinhela caída. Não sei se os milagres acontecem pela água ou pelos poderes de Hércules - as piscinas naturais se formaram ao redor de uma estátua dele, derrubada por um dos inúmeros tremores de terra que, desde sempre, acontecem na região. E é uma festa. Para dar um mergulho, suba na cabeça do Hércules. Para namorar, deite em uma das suas pernas. O complexo é bem equipado. Mesas, lanchonete, banheiros, caixas eletrônicos. Os humanos não têm do que reclamar. Zeus estava inspirado quando fez esse lugar.


Entre gregos e troianos, a Turquia.




Muita gente passou a conhecer Tróia por causa do Brad Pitt. Tá bom, ele é lindão. Na verdade, aquilo tudo que foi contado no filme é tido como mito, ou melhor, como poesia: a Illíada. Mas Tróia foi bem real, assim como a guerra. Não uma, nem duas. Foram várias guerras ao longo dos tempos. A famosa, segundo historiadores e arqueólogos, ocorreu mais ou menos entre 1193 e 1183 A.C., durante o reinado do rei Priamo. Visitando as ruínas, fiquei sabendo que existem 7 cidades, uma construída sobre a outra. A última, ou a primeira que aparece nas escavações, foi fundada pelo imperador romano Augusto. Ou seja, além de gregos, troianos, cimérios e frígios, temos também os romanos. Como diz Axterix: malditos romanos.
Em tempo: o cavalo que recebe os visitantes é uma réplica daquele que foi usado no filme. E não cabe quase ninguém na barriga dele.

Salve, Jorge! Sem palavras.




Fazer um passeio de balão na Capadócia deveria ser uma coisa que todo ser humano deveria ganhar ao nascer. Mesmo porque é muito simples: você faz uma reserva, coloca o despertador para a 3 horas da madrugada, vai para o saguão do hotel e espera até que um homem que você nunca viu na vida venha te buscar. Escuro ainda, ele te leva por umas estradas de pedra, bem labirínticas. Tempo depois, chega-se no meio do nada. E lá você encontra uma kombi ou algo parecido. Mas, nada a temer.É só um local para que você possa realizar o pagamento do voo. Sério, assim mesmo. Escuro, sem ver nada pela frente nem pelos lados, saca-se o cartão de crédito e pronto. Que tecnologia! Bem, estamos na Turquia. Nessa altura do campeonato outras pessoas já começam a aparecer. Então a equipe baloeira chega e começa a função. Para acalmar os ânimos e esquentar o corpo, chá - faz frio, muito frio. Começa o espetáculo. Gás no balão e o bicho vai crescendo, crescendo. Hora de embarcar, ou melhor, escalar. Nunca pensei que fosse tão difícil entra naquela cesta. Só que quando o balão vai subindo, vai descendo a garoa. Dos olhos. Não sou piegas, mas dá vontade de chorar. O sol nasce quando a gente já está lá no alto. PQP. Quase uma hora depois, hora de voltar para a realidade. Todo mundo reclama, claro. O balão vai indo, indo, indo cada vez mais baixo e lá na estrada um carro segue - balões têm vida própria e param onde bem entendem. Fim de sonho. Somos recebidos com champanhe - turco, 7 e meia da manhã e com o estômago vazio. Beleza. Eu bebo, por que não?

Sem sapatos e sem fôlego.



Tomando o cuidado de não chegar nos horários de oração - acho que são 5 por dia, dá tranquilamente para conhecer a segunda maior mesquita do mundo. A primeira fica em Meca. Por total incompetência da fotógrafa, as imagens estão uma porcaria. Mas, garanto, é muito, muito linda.
Mulheres de um lado, homens de outro, e turistas todos juntos e misturados, só é preciso tirar os sapatos e entrar na Mesquita Azul - seus vitrais são azuis, claro. O chão todo forrado de tapetes, as paredes cobertas de mosaicos delicadíssimos, dá-lhe embasbacamento.

Como se não bastasse tanta formosura, a Mesquita Azul tem como vizinha a Santa Sofia. Com 15 séculos, ela já foi igreja bizantina, mesquita, e hoje é um museu. Ali dá para passar horas e horas não só apreciando os mosaicos islâmicos como também os bizantinos. Além de conhecer muito sobre a história de Constantinopla e o império Otomano.
Palácio de Topkapi - vida de sultão.

Até que o Atatürk, pai dos turcos e figura onipresente por todo o país acabasse com a mamata deles, os sultões viviam bem que era uma beleza. E o Palácio de Topkaki é a prova disso. Enorme, dá passar dias lá dentro. Reúne tesouros - entre eles um diamante de 86 quilates, tronos, armas, armaduras, trajes imperiais e relíquias do Islamismo. Tá tudo lá: o turbante de José, a espada de David, o manto de Maomé, seu estandarte, uma marca de pegada (Maomé andava descalço?) e, verdade, um dente e fios de barba do profeta! Para entrar no harém, é preciso pagar uma entrada separada - não esqueçamos, estamos na Turquia. Em um grande labirinto de salas e corredores decorados com azulejos e vitrais, eram guardadas as mulheres, concubinas e filhos do sultão. Sempre sob a vigilância dos eunucos e da sultana-mãe, a mulher mais poderosa do harém.
Não, não tirei fotos. Não podia. E mesmo que tivesse tirado, iriam sair uma droga mesmo.

Um pé na Europa outro na Ásia. Literalmente.















Istambul já teve muitos donos. Fenícios, gregos, romanos, otomanos. E todo mundo que não faltou na aula de história sabe de cor e salteado o capítulo sobre a queda de Constantinopla - que por lá eles ensinam como a conquista e não a queda, e todo o rolo que isso deu. Portanto, nada de didatismo por aqui (mesmo porque eu acho que não decorei muito bem as lições).
Seguindo todas as orientações recebidas, fiquei hospedada no bairro Sultanahmet, centro histórico da cidade. Para uma primeira visita, todas as principais atrações estão lá. Dá para fazer tudo a pé. Ou de barco. O cruzeiro, vá lá, eles chamam assim, pelo Bósforo, é imperdível.
Dá para comprar um tour organizado ou ir por conta própria - é facinho, facinho. As barcas saem do porto em frente a Mesquita Nova (tem muitos séculos, mas devido a idade da vizinhança, ela é novíssima). E é assim: você olha para um lado, Europa. Olha para o outro, Ásia. Dá para pegar com mão.
Algum colega blogueiro fez uma lista de motivos para se conhecer a Turquia. Achei bem legal. E,mesmo não lembrando o nome dele e muito menos do blog, faço uma homenagem reproduzindo-a (cara de pau é pouco).
Por que ir para a Turquia?
- A guerra de Tróia foi lá.
- Foi na Turquia que o herói Belerofonte matou a Quimera, o famoso cavalo alado.
- Foi lá também que Alexandre Magno cortou o nó górdio.
- As setes igrejas do Apocalipse ficam da Turquia.
- O monte Ararat, onde a arca de Noé ancorou depois do dilúvio, também.
- São Nicolau, o Papai Noel, era turco.
- São Jorge também.
- Tales de Mileto, um dos sete sábios da Grécia, também era turco. Foi ele quem primeiro explicou e previu um eclipse solar.
- Depois da morte de Jesus Cristo, a Virgem Maria foi morar na Turquia.
- A primeira moeda do mundo foi cunhada na Turquia.
- O Orkut foi inventado na Turquia pelo engenheiro Orkut Buyukkokton.

E acrescento: o Rei Midas, aquele que transformava em ouro tudo que tocava, também era turco. Até vi a reprodução do túmulo dele no Museu da Civilização, em Ankara.













Mas será que eu estou falando turco?

Nunca tinha me passado pela cabeça visitar a Turquia. E olhe que eu tenho uma imaginação bem viajante. Mas, lendo uma coisa aqui, outra lá, resolvi. Ignorante que sou, cheguei lá bem no Ramadã. Cheguei não, chegamos. Minha mãe também foi.
Horas de viagem, conexão tumultuada em Madri - quase o avião se foi nos deixando para trás, pousamos. Todos os alemães, holandeses e finlandeses tiveram a mesma ideia. Fila imensa na imigração, dois funcionários. Parece um país que eu conheço bem. Vencida a barreira, esteira de bagagens. Minha mochila apareceu rapidinho. Já a mala de mamis, nada. Mala preta, comum, se não contasse com inúmeras fitas vermelhas como adorno. Para melhor identificação, disse ela. Sei.
Roda, roda e roda. Uma mala preta apareceu. Sem fitas. Diálogo:
- Arrombaram a minha mala.
- Mãe, tem certeza que essa é a sua mala?
- Lógico! Eu não vou conhecer a minha mala! Arrombaram.
- Mas, mãe, a mala está fechada.
- Roubaram as fitas, ué.
Pensando nesse estranho fetiche turco por fitas, fomos. Fiscalização zero. Corta.
Hotel.
- Yara, essa não é a minha mala!
- Pelo peso, parece que tem um cadáver dentro.
- Ai, meu deus! E agora?
- Agora você compra uma burca. É moda por aqui. Vamos jantar.
Tá certo que eu tive sossego. Consegui convencer a querida mamãe que no dia seguinte resolveríamos tudo, ok? Fui dormir pensando em como resgatar uma mala perdida em um aeroporto onde todo mundo fala turco.
Nem foi tão difícil assim. O gerente do hotel escreveu um bilhetinho e munida de tal passaporte me mandei pro aeroporto. Mostrei o bilhete a um guarda. Ele riu. Me levou até outro guarda, que também riu e mostrou para aquele que parecia seu chefe. Esse não riu. Esbravejou. Por fim, achamos o depósito de malas trocadas e lá estava ela, cheia de fitas vermelhas.
Até agora, eu não sei o que estava escrito no bilhete. Se tiver alguém que entenda turco, por favor, deixe a tradução na caixa de comentários.


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Que Pachamama me perdoe!


Não sei porque, mas não encontro as minhas fotos da Bolívia. Talvez as tenha guardado em algum lugar secreto para, quando eu estiver bem velhinha, possa olhar para elas com saudades de um lugar que eu deveria voltar para tentar entender o que é.
Adolescente, vivendo na ditadura, as canções andinas eram hinos de libertação. A literatura rasgava as nossas veias. Abertas da América Latina.
Já bem grandinha, resolvi ir até a Bolívia. Poucos dias, sem pretensões de adquirir profundos conhecimentos e muito menos sair arrotando teses sociológicas.

Eu me sinto muito bem em lugares altos. Os mais de 3500 m de altitude de La Paz não me incomodaram nem um pouco. Nem cheguei e já estava pronta para um passeio. Recomendados pelo hotel, logo vieram uma moça, boliviana, e um motorista: cabra nascido na Bahia, casado com uma local, pai de dois filhos e louco de saudades de fumar um Hollywood - o cigarro que eu fumo. Pronto! Tava feito o negócio.

La Paz

É feia, muito feia. Uma lei estranha taxa as pessoas que pintarem as casas por fora. Resultado: a cidade, que se encarapita nas montanhas, é marrom. Imagine uma cidade grande inteirinha de tijolo! Claro, existem bairros onde os moradores têm dinheiro para pagar as taxas. São os bairros das embaixadas, dos executivos de empresas multinacionais e, lógico, dos ricos bolivianos.
Andando por La Paz, a comum, não se vê grandes diferenças sociais. São todos campesinos - como os índios fazem questão de serem chamados. Pobres, agressivos, rudes. Olhar para um deles é tido como uma ofensa. Ai de quem quiser tirar uma foto com as lhamitas sem pagar. Tudo é na base da propina.
O tal Mercado das Bruxas é interessante. Muitas barracas/lojas com mantas, roupas, chales patuás, beberragens, ervas, folha de coca. Muito colorido, bonito. E barato. Por mais que eles pensem que estão explorando os turistas - e estão, se pode comprar de tudo lá com menos de 30 reais. Como me disse o motorista baiano-boliviano-louco por hollywood: ¨nada que não se vê no mercado modelo¨. Tem razão.
Fui jantar, agora sem guia, mas com recomendação do hotel, em um local típico.Como todos os locais típicos, uma roubada. O prato principal, carne de lhama, dura pra cacete. A música, aquelas flautinhas... valeu, vai.

Vale de La Luna e Tiwanako

O tal Vale nada mais é do que um amontoado de rochas que, dizem, lembra a superfície lunar. Só não me disseram quem foi que esteve na Lua para lembrar disso e batizar o lugar. Mas, tudo bem.
Já, Tiwanako, é impressionante. Seus habitantes são considerados precursores das grandes construções em pedras da América Latina, Eles cortavam, entalhavam, esculpiam rochas de até 100 toneladas e encaixavam uma nas outras sem deixar uma fresta. O estilo de cerâmica também é considerado pelos arqueólogos como sem igual em todo o continente. Vale a visita.

Chacaltaya

Já tentei esquiar em lugares mais amenos e nunca consegui. Não seria em Chacaltaya, a estação de esqui mais alta do mundo - 5935m acima do nível do mar - que iria me arriscar. Mas fui até lá. Pelo amor. A minha jovem e gentil guia e o motorista baiano-boliviano-louco por hollywood vieram me pegar logo cedo. Atravessamos La Paz, o motorista teve que dar muitas propinas para os guardas de trânsito (????), chegamos a um lugar que indicava subida. A foto da estrada lá em cima no blog não é minha - surrupiei da internet. Mas juro, de perto, é muito pior. Fui deitada no banco. Pavor. De vez em quando, eles - a guia e o motorista, resolviam parar para que eu pudesse apreciar a paisagem. Tá certo. Mais um Hollywood para o pulmão. Quando chegamos, foi lindo. O carro estaciona pertinho. Temos mais uns 800 m para subir. Barranco de um lado, abismo de outro. PQP!
Lá, lá, lá em cima umas doces lhamas me recebem com muito carinho. Elas foram criadas e domesticadas pelo homem que explora o abrigo para esquiadores. As lhamas viverem aqui, compreensível. Mas tem umas pessoas que também passam a maior parte do tempo, ruim ou bom, aprazivelmente morando a quase 6000 m de altura.
Mas, tá no inferno abraça o capeta. Um café, um conhaque e um hollywood, E bóra apreciar a vista. Que é linda.




terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pura Vida? É, eu que sou uma chata.

Para quem não sabe andar sem tropeçar na alça da bolsa, fuma como uma mulher largada, tem a coluna torta, a Costa Rica pode parecer uma viagem aos infernos.
Mas, sendo eu a pessoa acima descrita, posso confessar: vale a pena.
Nem que a pena seja padecer em um bar, tomando um rum e olhando o anoitecer no Pacífico.
As pessoas são simpáticas, adoram conversar. E como esse é o único esporte que eu pratico com total desenvoltura, conversei a não mais poder. E aprendi muito.
Por exemplo, aprendi que um bate e volta desde Manuel Antonio, uma reserva natural no Pacífico até o lado caribenho é impossível. Olhando no mapa é muito perto. Vá pegar aquelas estradas onde 100 km podem ser percorridos em até 4 horas, com sorte.
Aprendi que o país não tem exército e nem precisa. A única polícia que tem trabalho é a polícia rodoviária (de novo, as estradas). Se bem que muitos afirmavam que um exército se sairia melhor para enfrentar os cartéis de droga estrangeiros que aproveitam da falta dele para fazer das enseadas e praias desertas entrepostos de contrabando.
Foi bom saber que preservar a natureza é ponto de honra para qualquer cidadão. E que lá ninguém joga lixo na rua (e isso ninguém me contou, eu vi só um pouco de lixo em um acostamento, mas foi pouco).
Enfim, não é tanto sacrifício assim passar umas férias na Costa Rica. É muito quente, a umidade é de amargar, mas eu não fui picada por nenhum mosquito.

Hotel bem bacana em La Fortuna: Arenal Lodge. Chalés confortáveis, restaurante com vista para o vulcão. Carrinhos elétricos fazem o trajeto entre a recepção/restaurante e os chalés. Aves e bichos em geral têm vida mansa por lá também.

Hotel em Manuel Antonio: La Colina. Fica entre o centrinho e a praia. Para os preguiçosos de plantão, os táxis ou os ônibus são fáceis de usar.


Pura Vida? Eu quase morri.









Pura Vida?

Eu posso dizer que quase morri. Só de ler sobre a Costa Rica já me deu cansaço: o país conta com mais de 1000 espécies de orquídeas e mais de 10.000 de outras plantas. Nos seus bosques abundam animais selvagens e sei lá quantos tipos de aves, repteis e peixes de água doce. Além disso, tem vulcões, muitos vulcões. Mas eu tenho uma filha bióloga e também fortes tendências masoquistas.E lá fomos nós. Uma escalinha em Lima - ótimo aeroporto, com uma confortável sala para fumantes desesperados como eu, e outro avião. Chegando lá, uma van nos esperava para irmos diretamente para o região do Arenal, o nosso primeiro vulcão. E a a primeira parada no meio da estrada para podermos apreciar a paisagem exuberante aconteceu antes mesmo dos primeiros 30 minutos de viajem. Assim foi.

Chegamos em La Fortuna, onde fica o Parque Nacional do Vulcão Arenal - lá esse negócio de preservação é levado a sério - e nos instalamos em um ótimo hotel (Arenal Lodge) , de cara com o vulcão homônimo. Ainda bem que o bicho tava quietinho. Explicou o guia que os vulcões da Costa Rica quando entram em erupção dificilmente expelem lava, mas sim pedras incandescentes gigantes. Eu vi algumas delas. Menos mal que já estavam bem morninhas.
A programação por lá foi: pela manhã, um tal de passeio pelas ¨puentes colgantes¨. Eu sabia o que significava colgante. Só não tinha a puta ideia que elas colgavam a centenas de metros acima de um rio. Foi um tal de sobe, sobe e sobe. Eu, que morro de medo de altura, ficava feliz da vez cada vez que tinha que atravessar uma das pontes: pelo menos eram em linha reta. Fim da sessão do Tarzã, início da epopéia escalada
Tive que dar uma uma pausa para recuperar o fôlego.
Mas como a história não fala dos covardes, fui.
O mais humilhante é que no caminho encontrei muitos jovens que pareciam estar subindo as escadas da entrada de um shopping. Todos conversando e rindo como se nenhuma pedra, nenhum abismo, nada, nada fosse um obstáculo.
Já sei, já sei. A idade cobra.
Sei lá como fui parar lá no alto. Quer dizer, sei. Minha filha me empurrava pelas costas e cada jovem que passava dava uma forcinha.
Dizem que o que se avista do topo é lindo. Não posso afirmar. Quando não consigo respirar também não sou capaz de enxergar. Vi depois, pelas fotos. Um gigantesco lago artificial cuja origem é, no mínimo, aterradora: o fosso cavado por uma das erupções do Arenal foi preenchido com água e é usado para esportes náuticos e pesca. Até peixes os caras conseguiram colocar lá. Isso que é saber fazer bom aproveitamento de tudo. Até de buraco.
Como tudo que começa mal termina ainda pior, tive que descer aquela montanha quase de joelhos. Ainda bem que outro bom aproveitamento do vulcão me esperava: piscinas termais rodeadas de bares e cervejas geladas.
Ave! Vulcano. Evoé! Hefesto.



quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Ilha Grande. Minha nossa!

Olhando a cara de alegria das minhas filhas, a cor do mar, a mata quase intocada, pode-se imaginar que estamos no paraíso. Bem, para muitos é mesmo. De tanto ouvir falar da tal da Ilha Grande, um dia resolvi aproveitar umas férias coletivas e passar um tempo por lá. Já disse: tendências masoquistas.
Pesquisando na internet até que tudo me pareceu bem razoável. Um centrinho, alguns restaurantes, sorveteria, animação para as meninas. Ok. Vamos lá.
E fomos. Eu, Laura, Marília e Hans, um amigo alemão. Eu não poderia estar em pior companhia. Adolescentes e alemães têm energia de sobra.
A viagem foi tranquila. Com carro de São Paulo até a cidade de Angra dos Reis. Por favor, o que é aquilo? Menos mal que todas as pessoas que se encantam com esse pedaço do nosso litoral chegam embarcadas e vão direto para as ilhas que a marinha gentilmente cede em comodato para os nossos milionários.
Com fome e ainda tendo que esperar a balsa para a travessia, custamos a achar um restaurante. Bem, achamos. Comemos até que bem.
Carro no estacionamento. Embarque. Tédio. Não sei quanto tempo levou a travessia. Acho que as caravelas demoram bem menos para chegar por aqui do que eu lá.
Quando chegamos, surpresa! A pousada reservada por mim - e nem podia reclamar, ficava a centenas de metros morro acima. Tudo bem, existe um serviço que leva as mochilas até o local. Mas quem me levaria?

Já sabia. Chove na Ilha Grande. O traje de passeio era capa. Os caminhos eram lama. Na primeira noite que eu tive que subir da Vila do Abraão até a pousada levei um tombo fenomenal. Posso dizer que o posto de saúde funciona bem. Não quebrei nada, mas fiquei com o olho inchado. Minha filha, gentil, disse que eu estava parecendo uma lula.
Quando parou de chover, fomos fazer um passeio muito recomendado por todos. Uma trilha até a Praia Lopes Mendes. Andei, andei e andei. Na trilha, era bonito apreciar a variação da flora: uma samambaia, uma orquídia, outra samambaia, outra orquídia, e assim foi. Depois de horas, chegamos. E o que vi: uma praia. E pior, sem nenhum vendedor de cerveja.
Ms fiquei mesmo encantada quando descobri que, em uma praia no meio do caminho, poderia voltar em um táxi boat. Isso! Por 2 reais, eu estaria entregue no Abraão. Economizei 2 horas de caminhada. Tudo bem que ainda teria que andar até a pousada.
Existem passeios mais leves. Pegue uma escuna, pague uma fortuna, ancore e veja de longe lugares que você nunca vai poder usufruir se não tiver 1 milhão de dólares.
Para seres como eu, a Ilha Grande é difícil. É longe, é cara - comer razoavelmente bem custa muito, é molhada e tem muitos pernilongos.
A pousada que fiquei era boa. Os donos, uma brasileira e um alemão, sempre gentis. A ceia do reveillon foi bem agradável. Fica aqui o link http://www.cachoeira.com/
Quem quiser tentar, boa sorte. Mas leve repelente.