quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Que Pachamama me perdoe!


Não sei porque, mas não encontro as minhas fotos da Bolívia. Talvez as tenha guardado em algum lugar secreto para, quando eu estiver bem velhinha, possa olhar para elas com saudades de um lugar que eu deveria voltar para tentar entender o que é.
Adolescente, vivendo na ditadura, as canções andinas eram hinos de libertação. A literatura rasgava as nossas veias. Abertas da América Latina.
Já bem grandinha, resolvi ir até a Bolívia. Poucos dias, sem pretensões de adquirir profundos conhecimentos e muito menos sair arrotando teses sociológicas.

Eu me sinto muito bem em lugares altos. Os mais de 3500 m de altitude de La Paz não me incomodaram nem um pouco. Nem cheguei e já estava pronta para um passeio. Recomendados pelo hotel, logo vieram uma moça, boliviana, e um motorista: cabra nascido na Bahia, casado com uma local, pai de dois filhos e louco de saudades de fumar um Hollywood - o cigarro que eu fumo. Pronto! Tava feito o negócio.

La Paz

É feia, muito feia. Uma lei estranha taxa as pessoas que pintarem as casas por fora. Resultado: a cidade, que se encarapita nas montanhas, é marrom. Imagine uma cidade grande inteirinha de tijolo! Claro, existem bairros onde os moradores têm dinheiro para pagar as taxas. São os bairros das embaixadas, dos executivos de empresas multinacionais e, lógico, dos ricos bolivianos.
Andando por La Paz, a comum, não se vê grandes diferenças sociais. São todos campesinos - como os índios fazem questão de serem chamados. Pobres, agressivos, rudes. Olhar para um deles é tido como uma ofensa. Ai de quem quiser tirar uma foto com as lhamitas sem pagar. Tudo é na base da propina.
O tal Mercado das Bruxas é interessante. Muitas barracas/lojas com mantas, roupas, chales patuás, beberragens, ervas, folha de coca. Muito colorido, bonito. E barato. Por mais que eles pensem que estão explorando os turistas - e estão, se pode comprar de tudo lá com menos de 30 reais. Como me disse o motorista baiano-boliviano-louco por hollywood: ¨nada que não se vê no mercado modelo¨. Tem razão.
Fui jantar, agora sem guia, mas com recomendação do hotel, em um local típico.Como todos os locais típicos, uma roubada. O prato principal, carne de lhama, dura pra cacete. A música, aquelas flautinhas... valeu, vai.

Vale de La Luna e Tiwanako

O tal Vale nada mais é do que um amontoado de rochas que, dizem, lembra a superfície lunar. Só não me disseram quem foi que esteve na Lua para lembrar disso e batizar o lugar. Mas, tudo bem.
Já, Tiwanako, é impressionante. Seus habitantes são considerados precursores das grandes construções em pedras da América Latina, Eles cortavam, entalhavam, esculpiam rochas de até 100 toneladas e encaixavam uma nas outras sem deixar uma fresta. O estilo de cerâmica também é considerado pelos arqueólogos como sem igual em todo o continente. Vale a visita.

Chacaltaya

Já tentei esquiar em lugares mais amenos e nunca consegui. Não seria em Chacaltaya, a estação de esqui mais alta do mundo - 5935m acima do nível do mar - que iria me arriscar. Mas fui até lá. Pelo amor. A minha jovem e gentil guia e o motorista baiano-boliviano-louco por hollywood vieram me pegar logo cedo. Atravessamos La Paz, o motorista teve que dar muitas propinas para os guardas de trânsito (????), chegamos a um lugar que indicava subida. A foto da estrada lá em cima no blog não é minha - surrupiei da internet. Mas juro, de perto, é muito pior. Fui deitada no banco. Pavor. De vez em quando, eles - a guia e o motorista, resolviam parar para que eu pudesse apreciar a paisagem. Tá certo. Mais um Hollywood para o pulmão. Quando chegamos, foi lindo. O carro estaciona pertinho. Temos mais uns 800 m para subir. Barranco de um lado, abismo de outro. PQP!
Lá, lá, lá em cima umas doces lhamas me recebem com muito carinho. Elas foram criadas e domesticadas pelo homem que explora o abrigo para esquiadores. As lhamas viverem aqui, compreensível. Mas tem umas pessoas que também passam a maior parte do tempo, ruim ou bom, aprazivelmente morando a quase 6000 m de altura.
Mas, tá no inferno abraça o capeta. Um café, um conhaque e um hollywood, E bóra apreciar a vista. Que é linda.




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