domingo, 29 de abril de 2012

Nem os poderes de baco evitam os perrengues.


Ontem o programa era visitar Stellenbosch, uma região que tem dedicado sua vida ao vinho desde o século 17. Levantamos cedo, banho e café da manhã e o ser que viria nos buscar não apareceu. Resolvemos marcar com outra empresa, desta vez para um tour de meio dia, ao invés de dia inteiro. Menos mal, ficar o dia todo experimentando vinhos não ia dar muito certo.
No caminho, existe uma reserva onde se pode interagir com cheetas – guepardos e não a macaca do Tarzan. Laura mega ultra entusiasmada. Chegando lá, descobrimos que a entrada só poderia ser paga em dinheiro. Que nós não tínhamos, pois gastamos tudo em táxis no dia anterior. Laura não se deu por vencida: conseguiu, por meros 5% de comissão, fazer uma negociação com um comerciante local – passou o cartão de débito e pegou a grana. Pronto.
Confesso que não achei muita graça. Para passar a mão bicho era preciso quase ajoelhar. Nada fácil para mim, com o dedo do pé estropiado. Mas a Laura delirou.

 Depois, visitamos a vinícola Tokara,  ultra tecnológica, onde os barris de carvalho foram substituídos por aço. Suas instalações tem o bom gosto dos modernos: clean, esculturas minimalistas, uma bela sala com lareira falsa antiga. Faz parte do programa experimentar 5 vinhos. Mas era tudo um pouco asséptico. Dá para degustar vinhos em pé no balcão? Isso para mim combina mais com degustação de rabo de galo.
A segunda vinícola, Boschendal, encanta de imediato. Ela nasceu em 1685! E os carvalhos não deixam que a história pareça mentirosa. Tudo é muito bonito. As montanhas, lindas, abraçam a propriedade. A casa antiga, a adega com um telhado feito de uma espécie de palha, porém da cor do vinho, as mesas ao ar livre. Degusta-se 5 tipos de vinhos também, mas com o carinho de antigamente: uma taboa de queijos veio nos fazer companhia.
No final das contas, um belo dia. Saúde.

Dobramos o Cabo da Boa Esperança.
Quer dizer, eu já dobrei faz tempo, mas hoje, sexta-feira, foi de fato. O Cabo da Boa Esperança é o acidente geográfico que fica na parte mais ao sul da África, ali onde o Atlântico e o Índico se encontram. Quem não faltou nas aulas de história, deve saber que dobrar esse cabo virou a grande obsessão dos nossos patrícios depois que o império Otomano tomou Constantinopla e cortou o Caminho para as Índias. Como na época ninguém podia viver sem especiarias – mais ou menos como hoje ninguém consegue dar um passo sem um smartphone, lá foram nossos bravos navegantes enfrentar os mares bravios. O negócio era tão difícil de ser feito que tal cabo foi chamado Cabo das Tormentas. Mas, quando tudo deu certo, esqueceram as desgraças e ele passou a ser conhecido como Cabo da Boa Esperança.
O principal capitão responsável pela façanha foi o Vasco da Gama. Que depois virou um time de futebol e, por muito pouco, não tirou do Corinthians o título de Campeão Brasileiro de 2011.
O Cabo é tão lindo que poderia já ter sido promovido a Almirante. O local faz parte do Parque Nacional Table Montain que abriga, veja bem, estamos na África, inúmeras espécies de animais. Nós só vimos um mísero lagartinho, irmão quase gêmeo de um calango. Mas tudo bem. Como bem lembrou a Laura, foi a segunda vez que estivemos no ponto mais extremo de um continente: primeiro Ushuaia, América do Sul, e agora Cape of Good Hope.

Como o dia não poderia passar sem micos, alguns:
- saímos, novamente, sem dinheiro vivo na bolsa. Doce ilusão que o Visa Travel Money carregado de rands nos livraria de qualquer saia justa. É muito burro pensar que estamos viajando pela Europa. No meio do caminho paramos para um passeio de barco que leva as pessoas para avistarem focas. Como eu e a Laura já vimos focas suficientes na vida, fomos para uma feirinha de artesanato.  Cartão, neca. Ao invés de focas, avistamos um caixa eletrônico. Dinheiro na mão é vendaval. A próxima parada foi uma visita a uma praia cheia de pinguins. Apesar de já ter visto pinguins de montão, a Laura queria ver mais uma vez. Ela adora os bichinhos. Mas, cadê o dinheiro? Torramos tudo na feirinha. Andamos por um caminho alternativo e até conseguimos ver alguns. Sempre se dá um jeito, né? Vale até se pendurar no parapeito para conseguir uma foto da colônia, e viva o zoom de 12 vezes!

- final do dia, uma parada no Jardim Botânico da cidade. Que ideia! Por que não parar em uma cervejaria, já que nossos companheiros de tours eram três alemães? Na bilheteria, aceitavam cartões. Viram a nossa sorte? Mas era ou entrar ou ficar torrando no sol. Ou seja, 80 rands para ver umas bromélias.
- ah! O dia estava maravilhoso e não havia uma nuvem sequer sobre a Table Montain. Essa montanha passou a semana tirando uma com a cara da gente. Tudo bem, acredito que tudo tem volta. Já programar outra viagem para Cape Town.


Por falar em Cape Town:
- ela e o Rio de Janeiro não são em nada semelhantes, a não ser por possuírem uma montanha traiçoeira. Os felizardos habitantes do Leblon, Ipanema, Leme, Copacabana, Urca e Barra da Tijuca têm praticamente a praia na porta de casa. Em Cape Town, as praias ficam distantes. É como se as praias do Rio só começassem na Barra de Guaratiba.
- construções baixas é lei na orla carioca, mas aqui elas são vistas por toda a cidade. Nada de prédios gigantescos, de neoclássico, concreto ou vidro fumê. A arquitetura harmoniza com o verde que encobre as montanhas.
- não é permitido beber na areia. Imagine que coisa chata: a água é muito gelada, não dá para entrar (isso sim, me lembra Ipanema), não tem quiosque vendendo caipirinha nem camarão no espeto e do outro lado da calçada, onde é permitido beber, os bares têm toalhas nas mesas e copos de cristal. Isso lá é praia que se apresente!
- as encostas das montanhas são ocupadas por casas muito grandes e elegantes. Como elas aparentam ser bem antigas, não devem acontecer muitos deslizamentos e as consequentes tragédias. 

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