domingo, 29 de abril de 2012

Em cartaz, Rei Leão (por favor, tirem as crianças da sala).


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Chegar em Hoedspruit é encontrar a África dos clichês. Com javalis na pista e macacos no telhado, o aeroporto tem paredes de tijolos aparentes, duas salas, banheiros e, sonho de consumo de todo fumante: uma sala de embarque com mesas e cadeiras dispostas em um grande jardim. E melhor, cerveja gelada.
Já nos esperava o nosso ranger – sim, o ranger era só nosso e de mais alguns brasileiros (ô gente que não para em casa!) por todos os três dias. Subimos no jeep e entramos no clima. O lodge, maravilhoso. Fica dentro de uma reserva privada – Kapama – com 13.000 hectares. Logo de cara, a Laura já vibrou: dentro da reserva, vivem os Big Five – leão, rinoceronte, búfalo, elefante e leopardo.


O quarto era show: enorme, com uma varanda e vista para a savana. Adivinhem quem foram nossas primeiras visitas? Os impalas, o bicho, não aquele carro velho que quem tem mais de 40 anos ainda se lembra. Outra vez a Laura vibrou: wifi grátis.


Cerveja tomada, roupa trocada, bóra para o primeiro safári. Logo deu para perceber que impalas, bambis, gnús, javalis e girafas são figurinhas fáceis por lá. E pássaros, muitos pássaros. É preciso ter uma paciência de Jó. O ranger na direção e o spotter, sentado em um banquinho à frente do carro, olham para todos os lados e andam por trilhas que se me largarem lá, nunca mais voltaria para casa – viraria a Jane, esperando o Tarzan para me salvar.

Mas, de repente, não mais do que de repente, uma grande leoa é avistada deitadinha na beira do caminho. A bicha bocejava de tédio e parecia não estar nem aí com a nossa presença. Cansada de ser admirada, levantou-se, atravessou a estrada e se embrenhou pelo mato. Então começou. O ranger deu uma ré, entrou no mato, foi derrubando árvores, cortando galhos com um facão gigante e mandando que nós nos deitássemos no banco para não termos nossos pescoçinhos decepados por plantas com espinhos do tamanho de palitos de dente. Então, ouvimos gritos, uivos, urros, sei lá. Chegamos a uma clareira no exato momento em que a mocinha dava o bote em um imenso javali. O porco gritava, estrebuchava e ela não largava o osso. Ele demorou a morrer e quando isso aconteceu a leoa saiu arrastando a presa mato adentro. Pensa que o ranger se deu por satisfeito? Mais árvores derrubadas, mais facadas em galhos. Tudo para seguir a pobre felina. Coitada, ela só queria jantar em paz.
Momento dor no coração: dizem, que o animal atacado entra em choque e não sente nenhuma dor. Tá certo. Todo mundo acreditou.

Well. Depois de tanta emoção, o resto do safári foi bem normal. Mesmo porque ninguém prestava atenção em mais nada. O papo era só sobre o dia em que a Nala correu atrás do Pumba e, sem o Simba por perto, ele se ferrou.
Dia seguinte, as cinco da matina (lembrem-se estamos em férias), nos acordaram. Outro safári. Desta vez, dois Big Five: o búfalo e o rinoceronte. Eu, que já estive na Ilha do Marajó e até montei em um búfalo por lá, não entendo porque essa fascinação pelo ser que na ilha é quase um animal doméstico. Mas, vá lá. Estamos na África. Os rinos – uma fêmea e um jovem macho (pedofilia na savana?) pastavam na maior tranquilidade. A fêmea até deu uma cheiradinha no jeep. Mas, como ele não cheirava CK One, ela se desinteressou. E continuaram pastando.

E tome impalas, gnús, bambis e javalis. E também girafas. Cadê os elefantes? Onde está o leopardo? E o marido daquela mocinha nervosa que nos presentou com um banquete no dia anterior? Tudo era expectativa quando o ranger, sempre ele, viu uns urubus rodeando. Vai o louco para dentro do mato de novo. E, de novo, momento Discovery Chanel: uma búfala havia sofrido um aborto e o feto jazia no chão. Como boa mãe, ela não se conformava e estava muito brava. Atacava o jeep, atacava os urubus. Por fim, a lei da selva venceu. E ela se foi, pronta para outra jornada.
O resto da manhã foi piscina até onde deu para aguentar o calor. Almoço tardio. Outro safári. Sem querer repetitiva, já sendo: impalas, gnús, bambis e javalis. Até que o Steve – nosso ranger, recebe uma mensagem pelo rádio e sai em desabalada carreira pela trilha. Pelo menos, sem derrubar nenhuma árvore. Estava lá o nosso terceiro Big Five. Estava não, estavam. Muitos elefantes, alguns Dumbos tão filhotes que nem sabiam ainda para que servia a tromba. Lindos. Satisfeitos, voltamos, jantamos e cama.

Último safári. E o tal do Leopardo. Ninguém sabe, ninguém viu. Só algumas pegadas. Eu acho que é uma lenda, mas tem gente que jura que avistou. A Laura acha que é mentira. Pode ser. Por fim, mais uma leoa e agora sim, acompanhada de um macho. Um velho macho (eles não se importam com essa coisa de diferença de idade). O rei das selvas estava só interessado em comer umas graminhas – coisa de velho. A leoa estava interessada em uns impalas. Eles, de novo. Ok. 4 Big Five está de bom tamanho. Até breve, Kruger Park.

Adendo de Laura
Todo biólogo que se preza, mesmo aqueles malucos que ficam olhando no microscópio o dia todo, gostariam de fazer um safári na África. Finalmente realizei o meu sonho e confesso que a emoção de ver os animais em toda sua plenitude me trouxeram lágrimas aos olhos em algumas ocasiões. Um dos momentos mais esperados foi o encontro com os elefantes. Era só olhar para o Stephan, nosso querido e rechonchudo guia, toda vez que entrava no jipe eu falava: “hoje você tem que me mostrar os elefantes!”. Como se fosse fácil. Mas, quando encontramos a manada (com a ajuda de uma boa alma que deu a dica da localização pelo rádio), me emocionei. Já dos rinocerontes eu senti foi é medo, aquele bicho, que parece um tanque de guerra, vindo cheirar o carro e ficar a menos de um metro de mim. Ainda bem que ela (uma fêmea) estava mais interessada na grama. Já a leoa foi cena de documentário, fiquei com dó, mas fazer o que né? Ela tem que comer! Depois de 4 safáris espetaculares posso dizer que o saldo foi super hiper ultra mega positivo, sem dúvida uma das experiências mais espetaculares da minha vida e posso agora botar um x na minha lista de coisas que tenho que fazer antes de morrer.

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